quarta-feira, 22 de dezembro de 2010

Calo











O talento que eu sonhei ter
diluiu-se nas muitas histórias
mal-contadas
que um dia eu escrevi
sonhadora
pra te impressionar.
Achava que sabia escrever
mas hoje sei
entristecida
que minha palavra trêmula
nunca encontrou o caminho.
Calo.

quarta-feira, 24 de novembro de 2010

Distância




















O encanto desaparece
em silêncio.

As palavras
que já provocaram incêndios
e vendavais
já não são mais que rabiscos
que a vida transformou em poesia
um dia.

domingo, 21 de novembro de 2010

Saudade








 







Essa saudade de molhar os olhos
é úmida como janeiro
refrescante como a chuva que cai na tarde morna
perfumada como o caminho que leva à ponte
que liga passado e presente sem perceber.

Essa saudade
que é grande mas não oprime
colore meus olhos como as lâmpadas
das árvores enfeitadas
que contávamos da janela do carro
na infância que nunca saiu de mim.

segunda-feira, 8 de novembro de 2010

Palavras que eu guardei


Estou sob mim mesma

esperando que me desnudes

camada após camada

e enxergues meu íntimo

afoito e infantil

enquanto me liberto

plena

e me jogo

inteira

em ti.

quinta-feira, 14 de outubro de 2010

À margem
















Não me deixe esquecer que não tenho medo
que às vezes a memória engana,
me tremem as pernas e a fala hesita
e eu penso que devo parar.
Olho através da vidraça molhada
tentando achar o que dizem que sou.
Mas não há qualquer traço das muitas cores
que eu teci pra encantar meus dias
e pesa nos meus ombros uma vontade de me encolher.
Enquanto isso olho e penso e calo e espero.
até que eu consiga ver que há em mim
muitas mais que eu mesma.
A vida anda em preto e branco...

quinta-feira, 23 de setembro de 2010

Assombro












Meu nome doce
dança na tua boca suja
entre uma carícia e um verso
sussurrado
pra me iludir.
O timbre grave
grava em mim o assombro
de pertencer assim
tão descabida
descabelada
desinibida
a alguém que não sei quem é.

quarta-feira, 15 de setembro de 2010

Noturna

Eu não me basto
e oscilo entre a lucidez
e os sonhos confusos
onde mergulho
insaciável
em busca do que já tenho.
Eu mesma.

quinta-feira, 9 de setembro de 2010

Dia de...















Era dia de nunca mais.
Ensaiei mil frases
pra dizer que era o fim.
Palavras pra me convencer
que não havia mais espaço em mim
pra tantas alegorias.

Ela soltou os cabelos antes de me abraçar
e o que eu tinha pra dizer
perdeu-se nos cachos avermelhados
da mulher que incendiava minhas certezas todas.

Nunca mais faço planos.

quinta-feira, 26 de agosto de 2010

Insight















Tinha o dom do amor
na ponta dos dedos
e usava
lasciva
enquanto a tarde escorria
morna
no sofá macio.

Benditas as mulheres apaixonadas
por si mesmas.

segunda-feira, 16 de agosto de 2010

Desistir?...


Desistir?

Eu já pensei seriamente nisso,
mas nunca me levei realmente a sério.
É que tem mais chão nos meus olhos
do que cansaço nas minhas pernas,
mais esperança nos meus passos
do que tristeza nos meus ombros,
mais estrada no meu coração
do que medo na minha cabeça.

*Cora Coralina*

quinta-feira, 12 de agosto de 2010

Ousadia





















Meus dedos longos
enlaçam teus medos
e aquecem tua noite.

Sei o que quero.
E fujo dos avisos de perigo
e das placas de advertência.

Depois eu pago as multas.

quarta-feira, 11 de agosto de 2010

Entardecer















Escuto os sons na tarde quente
embalando minha solidão.
Corro dentro de mim mesma
recusando as velhas certezas
e repensando meus gostos musicais:

Nada tem som mais agradável
que a música que fazes
ao dizer meu nome.

segunda-feira, 9 de agosto de 2010

Espera















O relógio parece zombar
do meu desespero mudo.

Durmo
acordo
durmo
acordo
mas não entro num acordo
com a impaciência que me consome.

As respostas não estão em mim
dessa vez.

sábado, 7 de agosto de 2010

Silêncio















Eu não quero dormir
e encho a madrugada com minha indiferença
pra te castigar.

Sentada na cama enorme
aconchego minha tristeza
no som longo e inesperado
do silêncio.

sexta-feira, 6 de agosto de 2010

Fome





















Consumido pela fome
inesperada
afogas tua boca
em meu pescoço
enquanto as palavras escorrem
na madrugada quente
procurando algum sentido.

Não tem.

segunda-feira, 19 de julho de 2010

Standing





















Encontro o encanto escondido
nas dobras dos meus lençóis.

Ainda que em outros tons
a música enche novamente a madrugada.

O tempo não leva tudo
mas leva tempo até achar
o caminho de volta.

Além de palavras
traço novos mapas.
Não posso mais me perder.

sábado, 19 de junho de 2010

Atrevida...





















Tento ouvir o som das palavras soltas
(aquelas que não estão nas tuas frases feitas)
Tento ouvir o que não falas
e maldigo minha pouca audição
pra meias palavras...

Mas num súbito descuido da palavra muda
enxergo as entrelinhas do que não me dizes
e num rompante de atrevimento
calo o resto das minhas dúvidas na tua boca.

sexta-feira, 18 de junho de 2010

Encontro

















Um querer desesperado
apertou as mãos geladas
da moça que não sabia
se corria
se ficava
se esquecia

Um querer indescritível
fechou os olhos do moço
pra toda e qualquer resistência

A queixa silenciosa
da distância entre os dois corpos
desfez-se rapidamente.

A noite quente
de céu nublado
justificava toda ousadia.
A pressa, envergonhada,
diluiu-se na chuva fina.

quarta-feira, 16 de junho de 2010

Coragem















Não temer é mais que não sentir o medo
é acalentar esse medo de mansinho
pra que ele não sofra
com minha lucidez.

É saber que minha presença permanece
em mim e em tudo que me cerca
mesmo quando já não estou.

E quando eu não mais estiver
inconsolada pelo que não tem jeito
é porque estou pronta.

segunda-feira, 14 de junho de 2010

Às vezes...


Perco a conta dos minutos insones

olhando pra cima

no quarto escuro


Assombrada pelo espelho

avisto no alto da madrugada

o fundo do poço.

sábado, 12 de junho de 2010

Sinais




















Gosto de olhar as marcas
roxas
do amor sôfrego
e descontrolado
impresso em meus braços
pescoço
e entre minhas coxas.
Sinais do que não cabe
nos minutos roubados
de quem acha que tem tudo
mas não tem mais
do que parte.
Por sorte.

quarta-feira, 17 de março de 2010

Mata-me

Mata-me aos poucos
nesse abraço incontido
escondido
nas horas menos visíveis.
Rasga-me a blusa
saliente
com a fome que guardas
pra quando eu chegar.
Mata-me devagar
que eu ainda quero morder-te
reter o gosto da tua pele em mim
e marcar-te a carne com minha imprudência.
Beija-me com urgência
enquanto tentas fundir meu corpo
ao corpo que já não se sabe se teu
se meu.
Mata-me então
antes que eu sinta medo
e guarda em ti
em silêncio eterno
o que deve permanecer
segredo.

sábado, 13 de março de 2010













Percebo novos sinais do tempo
diante do espelho mudo.
Olho incerta a nova ruga,
torcendo que ela não esteja
mas está.

Na tentativa de manter-me sã
encho a cabeça de lembranças.
Histórias muitas que eu não sei contar
e se acumulam
cristalinas
entre um fio e outro de cabelo branco.

Espelhos e paredes não me fazem falta
mas eu moro só.

quinta-feira, 25 de fevereiro de 2010

Arisca















Onde a palavra não cabe
fica o cheiro doce do silêncio
que enlaça o segundo de hesitação.
Eu tento articular a frase esperada
mas olho os olhos do espelho
e suspiro.
Nunca estou farta
mas às vezes espero novos sinais
pra saber que é a hora.
E estoco pensamentos doces
na tentativa de não enlouquecer.
Eu calo, paro, espero, fico
mas não durmo nunca
no caminho.
Sozinha.

quinta-feira, 18 de fevereiro de 2010

Fantasia





















Escondida de mim mesma
visto as asas da libélula
e finjo que sei bailar.
Misturada a outras tantas
tintas de outras cores
cheiros de outras flores
canções que eu não sei cantar,
rodopio leve e lépida
entre um suspiro e um arquejo.
Travestida ou camuflada?
Vestida ou fantasiada?
Mentira séria ou inventada?
Eu não sei,
mas não faz mal...
Melhor do que a fantasia
é poder despir-se dela
no final
de todo dia.

sexta-feira, 12 de fevereiro de 2010

Rainy Friday





















E porque os dias arrastam as infelicidades todas
um meio sorriso brota de novo
na boca que quer calar
mas não sabe.

A chuva lavou as calçadas
e deixou um cheiro de infância
na manhã de sexta-feira.
A palavra sossega,
desnecessária.
Estou bem.

quinta-feira, 11 de fevereiro de 2010

Encantos


A palavra vestida de roupas de festa
tingiu de cor cintilante
o início da madrugada.

Imagens de outras danças
emprestavam frescor
ao meu rosto rubro.

A mão enfiada no bolso
pra não mexer nos meus cabelos
denunciava a intenção guardada.

Se eu pudesse tinha sorrido.

sexta-feira, 29 de janeiro de 2010

Segredos















Pego as palavras da tua boca
com a sofreguidão de quem anseia
pela voz encolhida em sussurro.
Ouço encantada cada palavra
e guardo, possessiva,
o arrepio silencioso que me percorre
enquanto as frases se juntam
como movidas por alguma magia.

Segredos são fábricas de poesia.

terça-feira, 26 de janeiro de 2010

Vertigem















A vela que ilumina o corpo
reflete no copo alto
uma chama avermelhada

Não tarda a ver miragens
na água que quase brilha:

O homem que pulou da borda
no fundo do copo d’água
entrega os últimos suspiros
à moça que olha de fora.

O telefone nem toca
mas eu escuto a voz que berra.

- Me esquece, pequena.
Não sei.

segunda-feira, 25 de janeiro de 2010

Parágrafos














Leio e releio
as palavras plantadas ao acaso
procurando algum sinal.

Mal humorada
tomo um café
sacudo o livro,
discretamente.
Quem sabe a persistência infantil
mostre a chave das entrelinhas
pra que eu possa finalmente
dizer que entendo.

Mas lá no fundo
eu acho
que todas as pistas eram falsas.

Ninguém matou ninguém.

quarta-feira, 20 de janeiro de 2010

Profecia
















Estava escrito
que eu derrubaria tuas defesas
e te tornaria cativo
dominado pelo calor desse incêndio
que arde sem trégua
em mim.

Estava escrito
que eu acenderia teu caminho
com as palavras que proferi por ti
enquanto não te sabias
meu.

Estava escrito que dirias meu nome
embebido em desejo e culpa
pelo que não caberia mais
em ti.

Todo destino traçado
esperando esse encontro.
Mas eu me atrasei...

terça-feira, 12 de janeiro de 2010

Insone





















Minhas mãos pálidas
percorrem o caminho conhecido
sem se deter.
Mesmo quando eu não quero
moldar-te
morder-te
algo me puxa em direção às costas
às coxas
à toa
me debato.
Minhas unhas vermelhas sabem
como tatuar essas tardes
nas tuas noites insones.

Dormir é para os fracos.

segunda-feira, 4 de janeiro de 2010

Não sabia...















Não sabia anoitecer em paz
e remexia as palavras secas
em busca de uma que acalentasse.

Nuvens demais sobre a lua
e nenhuma claridade no quarto
enorme.

Toda a treva armazenada no peito
cheio de cicatrizes.
Mas não tinha medo.

Só não sorria.
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