sexta-feira, 30 de dezembro de 2011

Em tempo...














Mãos afeitas ao trabalho
de enfeitar os dias
com palavras leves
também cansam
que fantasiar é pesado
quando pensado demais.
Mas eu aponto os lápis
mais uma vez
e enfeito as frases
como se nunca houvesse cansado.
Volto devagar
que os passos já não me são tão leves
e os dias ainda são quentes.
Trago lápis novos
e tempo de sobra.
A vida ainda me sorri
muito.

sexta-feira, 12 de agosto de 2011

Leminskiando...












Nada foi
feito o sonhado
mas foi bem-vindo
feito tudo
fosse lindo

(Paulo Leminski)

terça-feira, 9 de agosto de 2011

Palavra...














Sigo às cegas
remexendo sentimentos
reinventando palavras
reconstruindo frases.

Tateio entre as rimas antigas
para encontrar
quem sabe
novos modos de dizer
te amo.

Sempre.

sexta-feira, 5 de agosto de 2011

Penumbra

























O passado que eu tentei enterrar
desnuda minhas identidades
como se não houvesse esconderijo possível.
Finjo-me desentendida
enquanto a mão boba do que já não está
levanta minhas vestes
e confere
possessivo
se algo em mim mudou
ou se ainda sou a mesma
trôpega de infelicidade
sorvendo as vidas alheias
pra alimentar meus sonhos.
Nunca consegui me esconder
de mim mesma.

sexta-feira, 22 de julho de 2011

Tem dias...




















Tem dias que eu amo demais
e deixo o amor esticar meus limites
até rasgar minhas defesas.

Amo tanto
que nem comporto
em meu peito estreito
a dor de não poder ser
várias
como antes.

E adormeço a angústia
recitando mantras que decorei
pra disfarçar meus medos
de ser tantas
em uma só.

Não sou mais
as mesmas.

quinta-feira, 21 de julho de 2011

terça-feira, 12 de julho de 2011

Plágio!

Uma coisa é achar o que eu escrevo sem os devidos créditos. Chateia, claro, mas não é nada que um e-mail ou um comentário no blog não resolva. Mas hoje, em um mesmo blog, além de encontrar uma poesia minha sem identificação alguma (o que acaba por sugerir que a redatora do blog é a autora da poesia) eu me deparei com um problema muito mais grave: a modificação parcial de um texto meu, assim, na maior cara dura mesmo.
Veja com seus próprios olhos:

Este é o texto original.
Este é plágio.

segunda-feira, 11 de julho de 2011

Teimo














Teimo em não esquecer
e palpito forte a cada lembrança
que faz formigar meus dedos
e aquecer meu coração.

Teimo em não fraquejar
mesmo que a carne estremeça
os olhos marejem
e eu queira voltar.

Teimo em escrever histórias
que não vingarão nunca
nem sob a chuva forte.
Pra que um dia eu recorde
que não foi sonho não
mas acabou.



quinta-feira, 16 de junho de 2011

Penso que posso tudo...




















 
Penso que posso tudo
e sorrio encantada
com o vento que agita
meus cabelos curtos.
Posso sentir o amor
nas minhas veias
aquecendo meu ser
imperfeito.
Penso que posso tudo.
Mas espero
comportada.

Nem me reconheço mais.

sexta-feira, 20 de maio de 2011

quarta-feira, 18 de maio de 2011

Eu tenho medo...




















Eu tenho medo de enlouquecer
soltar as amarras da civilidade
e me deixar levar pela pulsação acelerada
dos anseios que me apertam o estômago
e dilaceram minhas certezas.

Já não sei se vou rir disso tudo
mas enquanto os dias imperfeitos correm
imagino que a paz que procuro seja morna
e suave
e chuvosa.

Ainda resisto.

sábado, 16 de abril de 2011

Semeando




















Insone
Semeio lágrimas
na esperança adolescente
que elas floresçam poesia.
Amanhã, quem sabe
haja chuva
pra fertilizar o sentimento
e fazê-lo brotar
palavra
que ruminarei, insistente
até me satisfazer
poeta.

sábado, 9 de abril de 2011

Palavras de outras penas


QUANDO EU MORRI


RUBEN BEMERGUY

Era a última quarta-feira do ano e chovia muito. Eu suava e mantinha uma permanente sensação de palidez. Também senti que o ar me era escasso e ofeguei muitas vezes. Nas vezes anteriores, em que o ar também faltou, eu me socorria dos cisnes brancos. Como eles, eu abria minhas asas e desfiava o vento pouco a pouco até erguer-me o suficiente para atravessar a privação de viver sem ar. Não era um exercício simples, mas ter aprendido com os Cisnes foi decisivo para minha sobrevivência até a última quarta-feira do ano.

Ai, próximo às cinco horas da tarde, eu sentei em uma cadeira de balanço disposta no pátio descoberto da casa. Ali, já não mais tive forças para voltar a abrir minhas asas. Então, confiei na agitada atmosfera que acompanhava a chuva que me marinava justamente para compensar a falta que o ar fazia. Não lembro tudo. Mas Levemente eu perdia a autoridade sobre meu corpo que se inclinava para o lado esquerdo e uma dor lancinante se derramou em meu peito. Fui ao chão, em morte tardia, como há muito pressentido.

O tempo imprevisto adivinhou a morte e, aflito, demorou águas em meu corpo. O vento, já desnecessário, soprava um hálito viril em minha boca como se ainda possível guincha-me a vida. Um transitório clarão de relâmpago às vezes iluminava meu maxilar inferior caído e os olhos arregalados, como desejassem alguém que, por indulgência, os fechasse, desassustando a morte. Desejo foi algo sempre presente em minha vida, agora morta, designadamente o desejo de morrer.

Essa não foi a primeira vez em que morri. Aliás, tive muitas mortes. Algumas atrozes, difíceis de lembrar. Em todas, entretanto, eu estava amando e é por isso que sempre receei não morrer mais. Morri em segredo. No escuro do quarto. Rés a solidão. No sábado que foi. No domingo que vem. No sopro do rio que morreu no mar, eu morri. Tantas foram as vezes em que morri que por aqui pouco se ouviu falar de dor. Morri a morte que dura. Faz feliz a criatura e, às vezes, imortaliza o amor.

Mas agora era diferente. Eu estava diante de minha última morte. Não haveria outra, como dantes. Assim, mesmo não sendo um iniciante em morte, tive a oportunidade de senti-la mais profunda e definitivamente. Ela, sem cerimônia, vestiu-me de noivo. Deixou que suas tranças incolores deitassem em meu colo e pôs-se a ciciar em meus ouvidos palavras que acasalam. Recém nascidos, ziguezagueamos em fina lã até tecermos um idioma famélico de corpo e gozo. Lembro também de quase gemidos assíduos e um turvo leite gravitando em gotas e em bocas.

Aprendi muito com a morte. Aprendi, por exemplo, que existem pelo menos duas coisas que não se pode deixar de fazer depois de morrer. Uma, é passar em revista a cidade, inspecioná-la, acariciá-la nos extremos, inconfidenciar todos os traços da vida. A outra é secar as lágrimas e as corizas dos rios. Tristeza não é a consequência lógica da morte. Pelo menos da minha morte. A morte que morri estimula a vida, às vezes surda, noutras ouvida. A morte e a poesia andam tão perto, bem dizer prosa e verso. Vida. Foi assim, quando eu morri.


Ruben Bemerguy é um amigo que eu descobri escritor quase por acaso. Talentoso e discreto, resistiu um pouco à ideia de mostrar-me seus escritos. E eu não resisti a trazê-los pra cá...

quarta-feira, 23 de março de 2011

Recomeçar




















Eu penso em recomeçar
acender velhas chamas
reler palavras esquecidas
achar motivos pra rir à toa
me deixar levar...

Eu penso no que não passou
(apesar de passado)
e olho, saudosa,
no espelho muito sincero.

Ainda dá tempo.

sábado, 12 de fevereiro de 2011

Carpe diem















Encaracolados sóis entre meus dedos
pendem da cabecinha inocente
que aconchega os medos e dúvidas
no meu farto colo de mãe.

Queria congelar o tempo
pra reter em meus longos braços
os abraços que não me dará
na adolescência.
Mas meu relógio
inclemente
Recusa-se a parar.

Resta-me o sorriso franco
de quem sabe que o tempo corre.
Eu aproveito.

quinta-feira, 20 de janeiro de 2011

Finally

















A palavra que me foge há tanto tempo

amanheceu grudada à face pálida,

emaranhada às muitas lágrimas já secas.

Abriu a janela dos meus inúmeros sonhos

descortinando um horizonte ensolarado:

FELIZ.



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