terça-feira, 31 de março de 2009

Caçadora...











Caçadora
que se rendeu à caça
repouso agora sobre os restos
da sangria que causei.
Recolho minhas armas e sigo
sem qualquer orgulho
na tentativa de reparar
o que não tem conserto.

sexta-feira, 27 de março de 2009

Leveza...











A leveza que me faz flutuar
sai dessa força que eu não sabia
trazer comigo.

O silêncio
muitas vezes
é um ato de contrição
e coragem.

quarta-feira, 25 de março de 2009

Tempestade










Nesse dilúvio
afundo meus versos.
Esqueço que sou pequena
operária de palavras que gritam
meus conflitos.
Nado pra não morrer.


(Exagerada.
Só sei boiar.)

segunda-feira, 23 de março de 2009

Lembrando











Água de chuva
vento forte
cano que vira bica...
Escrava das boas lembranças
alimento meus dias
cinzentos
com o perfume
amadeirado
das fotos desbotadas.

Selinho pra mim!

Minha amiga Alcinea, na onda dos selinhos, me passou esse selo lindo que passo agora a ostentar com o maior orgulho:
Obrigada!
Agora, minha lista dos 15 que valem a pena acompanhar:

sábado, 21 de março de 2009

Em claro










Rasga minha madrugada
a mulher magoada
que eu não percebia.
Repousa em minhas angústias
e mostra
com um sorriso de escárnio
o espaço vazio na cama.
Como uma mancha na parede branca
a solidão desenha meu rosto.

sexta-feira, 20 de março de 2009

Não sei










Eu não sei
não ser
abstrair de mim
a alma
e ser só
objeto que se move
em segredo
enquanto tudo ao redor
vibra e chama.

Algo em mim
quer até sentir
medo

mas não há medo
em quem ama...

quarta-feira, 18 de março de 2009

Eu não sei guardar segredo...













Aquele que guarda segredo
já não sabe esperar o abraço.
Traz a voz rouca
e o descompasso
de quem se sabe
a outra face da promessa.

A carne pulsa
tem pressa
mas não pode
escolher a hora.

Aquele que guarda segredo
já não pode com tanta demora...

terça-feira, 17 de março de 2009

Deixa que eu conto


Mesmo depois da tristeza ter ido embora ela ainda ficou por ali, olhos fechados, sentindo o vento que vinha da única janela aberta. Havia muito tempo não chorava, e até já tinha esquecido da sonolência que o choro sentido e convulsivo deixa quando passa. Abraçou uma almofada e tentou limpar a mente de tudo o que parecesse significativo. Adormeceu sem se dar conta que a porta estava destrancada, e não viu quando ele entrou.
Não percebeu, também, o olhar enigmático em sua direção, não sentiu as mãos que passeavam pelos seus cabelos curtos em desalinho, nem conseguiu sentir a ternura que saía daquele toque suave. O desconhecido que a tocava entrou em seu sonho como uma sombra, mas não sentiu medo. Sabia que ele não a faria mal algum.
E porque não tinha medo não ofereceu qualquer resistência quando ele desceu as mãos pelo rosto e encontrou a curva do pescoço macio, detendo-se naquele pedaço do corpo tão sensual e ao mesmo tempo tão frágil. Quando ele apertou-lhe a garganta ela sequer abriu os olhos. Não faltou-lhe o ar de imediato, nem tampouco sentiu dor. Ouviu um pequeno estalo e tudo escureceu.
Quando a empregada chegou para trabalhar no dia seguinte estranhou a porta entreaberta. O grito logo preencheu o ambiente decorado em tons de terra. Um alvoroço tomou conta dos vizinhos quando a notícia se espalhou. Ninguém ouvira nada, nem havia visto qualquer estranho entrar no edifício. Não havia qualquer pista que pudesse levar ao dono dos dedos que deixaram aquelas estranhas marcas arroxeadas no pescoço alvo da jovem que jazia, inerte.
As conversas de corredor não tardaram a começar. Logo, cada morador tinha seu suspeito. Pereira achava muito estranho o comportamento daquele jovem do 801, sempre de preto e com ar soturno, mas Duarte não concordava. Achava que devera ser alguém que havia subido com ela ao apartamento na noite anterior ao crime, mesmo não existindo qualquer registro de visitas na portaria. O carro dela tinha película escura, logo ela poderia ter chegado com alguém. Ou não?
Dona Suzana desconfiava do morador do 203, um senhor calvo, careca e obeso, que aos 40 e poucos anos ainda morava com a mãe e dividia seus dias entre o computador e o binóculo que usava para ver de perto a vida alheia. A vizinha do 502, sempre calada mas muito observadora, discordava de dona Suzana. Um sujeito como aquele não conseguiria entrar sem fazer barulho, e mimado pela mãe daquele jeito seria incapaz de matar uma formiga. Não, o assassino era outro. E continuava escondido sob o véu da incerteza, disfarçado sabe-se lá do quê, ou de quem.
Na dúvida, cada um antes de dormir fazia questão de conferir se as portas estavam devidamente trancadas, bem como todas as janelas. Alguns mais preocupados ainda colocaram alarmes e outros dispositivos de segurança. Mas tranqüilidade mesmo, ninguém nunca mais conseguiu ter. A não ser, claro, o respeitado morador do 601 que, semanas antes, ao passar pela porta do apartamento da jovem que morava sozinha não pode deixar de perceber a porta entreaberta e resolveu entrar.

segunda-feira, 16 de março de 2009

Rastros














Enquanto traço meu caminho
pensando
o suor desenha em mim
um rastro
descendo
por curvas
vales
fendas
lembrando
das mãos que deixaram marcas
e ensaiaram danças.
Eu corro
mas não consigo
não pensar...

domingo, 15 de março de 2009

Música de hoje










Do nada pra lugar nenhum
(Nilson Chaves/Vital Lima)


Lembro de quanto tudo era doce
Lembro de quando tudo era vivo
Dentro de dois a força de ser só um
Hoje te vejo assim espantada
Como perdida em uma ilha e essa estrada
Que vai do nada pra lugar nenhum
Lembro da gente sempre bem perto
Por um caminho curto e direto
Atravessando os mares sem medo algum
Hoje te vejo em destino incerto
No meio desse imenso deserto
Que vai do nada pra lugar nenhum
O que será que existe dentro de nós dois
Além daquela vontade
Descobrir a verdade antes de tudo
O que haverá no muro entre nós dois
Além daquele espaço estranho
Escuro e mudo
Não há tristeza mais dolorida
Do que ter tido tudo na vida
E de repente perceber que é comum
Ser mais uma pessoa enganada
Ver o rumo confuso da estrada
Que vai do nada pra lugar nenhum...

sábado, 14 de março de 2009

Crepúsculo









A tarde sepultava um dia atormentado.
Nada de novo,
mas sempre a mesma esperança
de que o grito não ecoe.
As cicatrizes que ganhei
deixam meu olhar sombrio.

Só porque eu sorrio não quer dizer que sou feliz.

sexta-feira, 13 de março de 2009

quarta-feira, 11 de março de 2009

Desespero











Essa imensidão
que me abraça
e me puxa pra dentro
do abismo
fala de mim como se eu fosse
velha conhecida
dos labirintos
eternos
escuros
gelados
que se formam
toda vez
que eu quero desistir.

Eu não sorrio
nem temo
mas ainda não sei
se mergulho...

terça-feira, 10 de março de 2009

Palavras de quem entende...














Contágio
(Bruna Lombardi)

Feroz em nós uma paixão de novo
nos ameaça
nos faz vibrar, o sangue flui
sobe no rosto
de repente a gente fica
disposto a tudo
e tudo é pouco
não importa que essa loucura
não tenha alívio
a gente muda, respira de outro jeito
arfa no peito sempre uma pressa
sempre aquela vontade
sozinha fico metade
depressa me abraça, uma saudade
que dói, uma coisa que arrebenta
e não se agüenta mais.
A gente se entrega ao risco
arrisca a pele, perde o rumo
no prazer dessa desorientação
A gente quer explodir e não pode
quer se conter e não sabe
quer se livrar do jugo da paixão
mas não quer que ela acabe.

sábado, 7 de março de 2009

Ventania


Vento frio
nenhuma dor me sufoca
mais do que essa.
O ar que entra em mim
dilacera minha loucura.
Estou calma.

sexta-feira, 6 de março de 2009

Pausa












Sem combustível
para meus rompantes
estaciono minhas fantasias
desejos
loucuras
e espero
saudosa
que as nuvens dissolvam-se
sobre mim.
Cansei.

quarta-feira, 4 de março de 2009

Gorda










Sinto
que não caibo em mim.
Minhas curvas
abrigam um ser indócil
que se expande
a cada lágrima.
Culotes
braços
celulites
amargam a minha boca
Como
numa tentativa
de esquecer.
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