sexta-feira, 27 de novembro de 2009

Palavra




















Eu sangro toda palavra
nessa ânsia verborrágica
de dar nome a tudo.

A palpitação dolorosa
de não poder nominar
não estanca minha sangria.

Sigo testando as combinações
mudando os móveis de lugar
cortando os cabelos
evitando os espelhos
e fingindo alegria.
Nenhuma frase me basta.
Eu calo.

Exangue.
Exausta.

quinta-feira, 19 de novembro de 2009

Tormenta















Já afoguei em desejo as tuas virtudes
já mergulhei tuas verdades nos meus lábios
e causei-te o riso desvairado dos enlouquecidos de amor.
Agora trago seca em minhas mãos pequenas
a raiz de todo sentimento
e me deixo queimar pelo fogo que consome lento
a vastidão seca do que já teve viço.
Nenhuma lágrima ousa tentar apagar esse ardor
de não ser mais
eu que já fui
ousada demais pra tentar fingir inocência
ou confiar nas nuvens baixas.
Nem sempre chove.

sábado, 14 de novembro de 2009

Tempo





















Remexo meus velhos guardados
e encontro a jovem que fui
sorrindo amarelo em 3 x 4.
Ah, eu não sei o que aconteceu
mas não me reconheço nas palavras alegres
das agendas que um dia escrevi.
Sinais da idade, minha mãe diria.
Não sei.
Sei que o tempo me deforma o corpo
me risca o rosto
me cansa as pernas
mas não me convence
que aquela no espelho sou eu.

domingo, 1 de novembro de 2009

Madura




















Quando eu fecho os olhos
que não enxergam além das cercas do meu jardim
tenho a impressão que o dia se faz noite
e um vento frio atravessa meu corpo banhado
provocando um arrepio comprido
que começa na nuca
e eu nem sei onde termina.

Muitos anos atrás eu me achava madura
mas não fazia idéia do que era estar pronta.
Agora eu estou.

Ou quase.
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