sexta-feira, 29 de janeiro de 2010

Segredos















Pego as palavras da tua boca
com a sofreguidão de quem anseia
pela voz encolhida em sussurro.
Ouço encantada cada palavra
e guardo, possessiva,
o arrepio silencioso que me percorre
enquanto as frases se juntam
como movidas por alguma magia.

Segredos são fábricas de poesia.

terça-feira, 26 de janeiro de 2010

Vertigem















A vela que ilumina o corpo
reflete no copo alto
uma chama avermelhada

Não tarda a ver miragens
na água que quase brilha:

O homem que pulou da borda
no fundo do copo d’água
entrega os últimos suspiros
à moça que olha de fora.

O telefone nem toca
mas eu escuto a voz que berra.

- Me esquece, pequena.
Não sei.

segunda-feira, 25 de janeiro de 2010

Parágrafos














Leio e releio
as palavras plantadas ao acaso
procurando algum sinal.

Mal humorada
tomo um café
sacudo o livro,
discretamente.
Quem sabe a persistência infantil
mostre a chave das entrelinhas
pra que eu possa finalmente
dizer que entendo.

Mas lá no fundo
eu acho
que todas as pistas eram falsas.

Ninguém matou ninguém.

quarta-feira, 20 de janeiro de 2010

Profecia
















Estava escrito
que eu derrubaria tuas defesas
e te tornaria cativo
dominado pelo calor desse incêndio
que arde sem trégua
em mim.

Estava escrito
que eu acenderia teu caminho
com as palavras que proferi por ti
enquanto não te sabias
meu.

Estava escrito que dirias meu nome
embebido em desejo e culpa
pelo que não caberia mais
em ti.

Todo destino traçado
esperando esse encontro.
Mas eu me atrasei...

terça-feira, 12 de janeiro de 2010

Insone





















Minhas mãos pálidas
percorrem o caminho conhecido
sem se deter.
Mesmo quando eu não quero
moldar-te
morder-te
algo me puxa em direção às costas
às coxas
à toa
me debato.
Minhas unhas vermelhas sabem
como tatuar essas tardes
nas tuas noites insones.

Dormir é para os fracos.

segunda-feira, 4 de janeiro de 2010

Não sabia...















Não sabia anoitecer em paz
e remexia as palavras secas
em busca de uma que acalentasse.

Nuvens demais sobre a lua
e nenhuma claridade no quarto
enorme.

Toda a treva armazenada no peito
cheio de cicatrizes.
Mas não tinha medo.

Só não sorria.
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