Quinze passos me separavam do meu destino. Apenas quinze passos até aquele que seria, a partir dali, o dono dos restos dos meus dias. Meu marido. Dizer “marido” ainda me soava estranho, a boca enchia-se de orgulho e um largo sorriso apertava minhas bochechas na direção dos olhos marejados. Como um filme, oito anos desfilavam à minha frente enquanto eu tentava me equilibrar segurando o braço do meu pai, contando mentalmente os passos até a chupá, espécie de tenda sob a qual o casamento judaico se realiza. Mais alguns momentos e aquele que não era mais o adolescente que ruborizava ante minhas investidas pouco tímidas seria o homem que passaria o resto da minha vida me acompanhando. Porque havíamos combinado: seria para sempre. Para sempre? Minha mente enchia-se de dúvidas: seria eu a mulher certa? Para sempre seria tempo demais? Tempo de menos? Teria este homem que me recebia das mãos trêmulas de meu pai paciência para acompanhar esta mulher em constante mutação, saindo da adolescência para voltar a cada dois meses a se comportar como se tivesse ainda dezesseis anos? Teria este homem pálido, que levantava meu véu para olhar para meu rosto ao me tomar como esposa, amor suficiente para acompanhar minhas muitas dúvidas, meus muitos momentos de reflexão, minhas eternas ânsias de mudança? E conforme o rabino proferia palavras que eu não entendia, meus olhos buscavam os olhos daquele homem quase menino, que eu sabia inseguro, mesmo que apaixonado, ansioso, mesmo que encantado, e acima de tudo, comprometido. Meu coração tentava acalmar-se e, ao receber aquela aliança dourada, que aquela mão suada queria a todo custo enfiar até o fim no dedo errado, eu vi o que me esperava: uma vida de muito carinho, compromisso diário de quem quer fazer o outro feliz. E, ao beijar a aliança que coloquei no dedo do homem que escolhi, selava, com uma sensação de imensa felicidade borbulhando na boca do estômago, o contrato que firmamos. Para sempre.
2 comentários:
acho que vi tudo isso...bonito...
E viu mesmo!...
;-)
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