sábado, 13 de setembro de 2008

Palavras para recordar

Eu me dividi e deixei parte de mim mesma aqui, nesta sala cheia de cores e sons. Ficou um pouco de mim nas carteiras duras e desconfortáveis, entre os sorrisos que eu dei e os que nunca tive vontade de dar. Bem aqui. Sinto-me como se nunca tivesse deixado esta sala, e as lágrimas que não queria derramar tentam afastar de mim a dor de não viver mais uma época tão feliz. E chorar aqui, onde eu sorri e brinquei tantas vezes me deixa mais saudosa. Choro por todas as palavras que não pude pronunciar, ou pelas vezes que não participei das piadas. O mundo é uma assustadora montanha russa, e esta sala costumava ser meu encontro comigo mesma e com os amigos-irmãos que a vida me apresentou. Agora não há mais ninguém aqui, mas eu sei que de vez em quando eles voltam. Todos precisam voltar, sentir o cheiro do passado guardado em cada canto, revigorar-se com o amor que transborda de cada parede. Nunca fomos robôs, e precisamos nos sentir protegidos, mesmo que não seja o mesmo sentimento de antes.
Quando eu entrei aqui não vim buscar a minha parte de volta. Ela não me faz falta lá fora, e eu sempre tenho um pretexto para voltar. Vim para rever os quadros, olhar a mesma paisagem através da janela, ouvir os sons que não estão mais agora que não estamos todos juntos. Queria reencontrar meu passado aqui. Meus amigos. Mas eles também vivem num mundo maior, de onde vêm tão raramente quanto eu, em dias diferentes, horas distintas. De qualquer forma, sempre os vejo aqui, na mesma comunhão, rindo de bobagens e construindo sonhos. Na verdade, nenhum de nós nunca deixou esta sala, assim como não se esqueceu das palavras, dos gestos, das risadas, das músicas, dos códigos... Não. Nenhum de nós se perdeu tanto que não possa se encontrar aqui.

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