É difícil admitir, mas eu confesso. Minha boca não pode mais suportar este segredo, que parece já não ser segredo pra ninguém. Mas o que posso fazer, se sinto tão intensamente? Não ouso resistir à tentação de negar, e a pergunta que não cala encontra finalmente em meus lábios uma resposta: sim, estou apaixonada. Apaixonadíssima. E duvido que consiga algum dia reverter essa situação de plenitude que se instalou em mim desde que percebi o quanto posso me satisfazer com as palavras. Ah, as palavras que correm em minhas veias e depositam-se mesmo que à minha revelia na tela, construindo sentenças que nunca disse, retratando amores que nunca vivi, colorindo meu dia e enfeitando muitas horas sem graça... As palavras que agora me completam como nunca imaginei que pudesse me sentir um dia. Viva. Inteira. Absoluta. Capaz de transmitir essa falsa impressão que meu coração tem novo dono, que vem tirando o sono de meus pais e colocando de sobreaviso os fofoqueiros de plantão. Estou rindo de tudo isso, imaginando que meu talento talvez esteja em viver uma vida que não é a minha, com pessoas que nunca vi, só através do que posso dizer. E fico feliz em saber que posso, assim, deixar pulsar em mim mesma um pouco do que não sou. Porque ainda não sou o que quero ser. Mas não sou capaz de mentir para mim mesma. Meu coração já tem dono há muito tempo. Minhas palavras, entretanto, não.
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