terça-feira, 30 de setembro de 2008

Microcontos

O Ivan Carlo, do Idéias de Jeca Tatu, me mostrou ontem um site de microcontos, a Casa das Mil Portas. Genial! A idéia é sintetizar um conto em poucos caracteres. 50, no máximo, contando espaços e pontuação. Gamei de cara! O site é muito interessante, você vai passando de um microconto para outro aleatoriamente, não escolhe qual vai ler (O que não faz a menor diferença, porque é um melhor que o outro). Escrever um microconto desafia ao máximo o poder de síntese de quem escreve. Dificílimo para uma tagarela como eu, mas a idéia me fascinou de tal forma que eu resolvi tentar. Depois me fala o que achou:


Pensou que estava tudo esclarecido, mas falavam línguas diferentes.


O ciúme não se justificava. Matou à toa.


Passeava com o cachorro. Passava da hora. A coleira apareceu manchada de sangue.


Atendeu o telefone que não era dela. Entendeu tudo.

domingo, 28 de setembro de 2008

Rosh Hashaná


Nesta terça-feira os judeus comemoram o dia em que Deus criou Adão e Eva, também conhecido por Rosh Hashaná (cabeça do ano, em hebraico). Para os judeus esta é uma das datas mais importantes do calendário, porque de acordo com o Talmud (livro sagrado do judaísmo), é neste dia que Deus julga as pessoas, colocando na balança suas ações. Espera-se sempre que a balança penda para o lado certo, o que significaria a inscrição no Livro Divino da Vida e das Bençãos. Entretanto, como todo julgamento emocionante, o veredito não é dado no mesmo dia. De acordo com os ensinamentos hebraicos, Deus nos dá dez dias antes de tomar sua decisão final: são os chamados dias temíveis, que culminam com o Yom Kipur (Dia do Perdão), dia em que o destino de cada um é selado para o ano todo. Neste dia é costume abster-se de qualquer forma de conforto, incluindo a alimentação e o banho. O dia todo é dedicado à oração e à meditação, numa tentativa de reconciliação com os valores que normalmente vamos deixando de lado durante o ano.
Nas sinagogas durante o dia de kipur são entoadas várias orações. Uma delas, curiosamente, é o Livro de Jonas. Para quem não sabe, Jonas era um profeta de quem se esperava que advertisse a cidade de Nínive que estava a caminho da destruição. Só que em vez de tentar entregar a mensagem, Jonas tentou fugir. O resto você já sabe: seu barco foi pego por uma tempestade e ele acabou engolido por uma baleia. Depois de arrepender-se, Deus o tirou de lá e ele voltou a Nínive para passar a mensagem. Eu particularmente imagino que essa leitura trabalhe com a nossa habitual descrença: e se eu não quiser ouvir aquela voz interior que me adverte? E se eu errar? A leitura deste livro mostra que o perdão é para todos, desde que o arrependimento seja sincero.
Então, amanhã à noite (os dias no calendário hebraico começam ao pôr-do-sol, mas isso é outra história...) enquanto você estiver jantando e assistindo jornal, milhões de judeus ao redor do mundo estarão entoando cânticos e orações pedindo a Deus um ano abençoado. Pra mim, pra você e pra cada um que habita este universo. Chag Sameach!


Para saber mais leia "O mais completo guia sobre judaísmo", do Rabino Benjamin Blech, publicado pela Editora Sefer e à venda nas melhores livrarias do país.

sábado, 27 de setembro de 2008

Coragem

Quem dera um dia

dar de cara

com o dragão

sem medo

da dor

da queimadura.

Paulo Leminski


Leminski, um de meus referenciais na poesia, nasceu em Curitiba em 1944. Durante sua vida escreveu vários livros, dentre eles meu preferido: Caprichos e Relaxos. Este livro me acompanhou pela adolescência e acabou influenciando várias das minhas composições. Uma de minhas poesias favoritas não vem deste livro, contudo. Foi publicada em Distraídos Venceremos, em 1987. Tem tudo a ver comigo:

Escrevo. E pronto.
Escrevo porque preciso,
preciso porque estou tonto.
Ninguém tem nada com isso.
Escrevo porque amanhece,
e as estrelas lá no céu
lembram letras no papel,
quando o poema me anoitece.
A aranha tece teias.
O peixe beija e morde o que vê.
Eu escrevo apenas.
Tem que ter por quê?



Leminski também compôs com Caetano Veloso e A Cor do Som, entre 1970 e 1989. Para saber mais sobre este poeta genial e sua extensa obra, clique aqui.

quinta-feira, 25 de setembro de 2008

Macapá - A Capital do Meio do Mundo

Ontem eu estava chateada porque queria muito ir ao lançamento do livro do Prof. Herbert e da Adriana (Macapá - A Capital do meio do mundo), mas tinha que ir à faculdade. Tudo bem, como dizia mamãe: "quem não pode com o pote não pega na rodilha" (ou algo assim...). Não quis ser professora? Então esqueça a vida social noturna...
Pois é. Mas para minha grata surpresa, ao chegar em casa me deparei com um exemplar do (belíssimo!) livro devidamente autografado para minhas filhas. Olha só que lindo: minhas filhas lembrarm do compromisso e pediram ao pai para levá-las. E ao chegar em casa, já bastante tarde, as duas me esperavam, olhos brilhando de contentamento, para lermos juntas aquele pequeno tesouro.
Amei!!! Por tudo: pelas histórias que sempre quis contar mas não sabia, pelo interesse genuíno de minhas filhotas pela leitura e, principalmente, pelo fascínio que as palavras de Herbert e Adriana exerceram sobre nós três. Isso sem falar nas ilustrações, que nos chamaram a atenção pela leveza dos traços, interagindo com as palavras como se tivessem andado o tempo todo de mãos dadas...
No final, ficou um gostinho de quero mais. Que é como a gente se sente quando a leitura é prazerosa e agradável.
A redatora deste blog, com reverência, parabeniza os autores desejando muito, mas muito sucesso mesmo.

quarta-feira, 24 de setembro de 2008

Eu confesso...

É difícil admitir, mas eu confesso. Minha boca não pode mais suportar este segredo, que parece já não ser segredo pra ninguém. Mas o que posso fazer, se sinto tão intensamente? Não ouso resistir à tentação de negar, e a pergunta que não cala encontra finalmente em meus lábios uma resposta: sim, estou apaixonada. Apaixonadíssima. E duvido que consiga algum dia reverter essa situação de plenitude que se instalou em mim desde que percebi o quanto posso me satisfazer com as palavras. Ah, as palavras que correm em minhas veias e depositam-se mesmo que à minha revelia na tela, construindo sentenças que nunca disse, retratando amores que nunca vivi, colorindo meu dia e enfeitando muitas horas sem graça... As palavras que agora me completam como nunca imaginei que pudesse me sentir um dia. Viva. Inteira. Absoluta. Capaz de transmitir essa falsa impressão que meu coração tem novo dono, que vem tirando o sono de meus pais e colocando de sobreaviso os fofoqueiros de plantão. Estou rindo de tudo isso, imaginando que meu talento talvez esteja em viver uma vida que não é a minha, com pessoas que nunca vi, só através do que posso dizer. E fico feliz em saber que posso, assim, deixar pulsar em mim mesma um pouco do que não sou. Porque ainda não sou o que quero ser. Mas não sou capaz de mentir para mim mesma. Meu coração já tem dono há muito tempo. Minhas palavras, entretanto, não.

Aviso

A mulher que guardo em mim não conhece limites.
Ignora as convenções.
Não aprendeu a disfarçar.
Guarda um bocado de impaciência e alguma ingenuidade.
Ri escancarado, sem vergonha de ser quem é,
sem vergonha alguma.
Essa mulher que encontraste quando tropeçaste em mim não te pertence
porque não pertence a ninguém – nem a mim mesma.
E não duvida que ela te encante
te persiga
te preencha.
Que o que parece inofensivo, me acredite,
nunca é.

terça-feira, 23 de setembro de 2008

Não te doas...


Não te doas do meu silêncio:
Estou cansado de todas as palavras.
Não sabes que te amo?
Pousa a mão na minha testa:
Captarás numa palpitação inefável
O sentido da única palavra essencial

- Amor.


Manuel Bandeira

domingo, 21 de setembro de 2008

Chateada


O que faço de bom faço malfeito
pareço artificial quando sincera
mera falta de jeito pra viver
sou a filha predileta do defeito.

Martha Medeiros

sábado, 20 de setembro de 2008

Palavras que eu sempre quis dizer...


Quinze passos me separavam do meu destino. Apenas quinze passos até aquele que seria, a partir dali, o dono dos restos dos meus dias. Meu marido. Dizer “marido” ainda me soava estranho, a boca enchia-se de orgulho e um largo sorriso apertava minhas bochechas na direção dos olhos marejados. Como um filme, oito anos desfilavam à minha frente enquanto eu tentava me equilibrar segurando o braço do meu pai, contando mentalmente os passos até a chupá, espécie de tenda sob a qual o casamento judaico se realiza. Mais alguns momentos e aquele que não era mais o adolescente que ruborizava ante minhas investidas pouco tímidas seria o homem que passaria o resto da minha vida me acompanhando. Porque havíamos combinado: seria para sempre. Para sempre? Minha mente enchia-se de dúvidas: seria eu a mulher certa? Para sempre seria tempo demais? Tempo de menos? Teria este homem que me recebia das mãos trêmulas de meu pai paciência para acompanhar esta mulher em constante mutação, saindo da adolescência para voltar a cada dois meses a se comportar como se tivesse ainda dezesseis anos? Teria este homem pálido, que levantava meu véu para olhar para meu rosto ao me tomar como esposa, amor suficiente para acompanhar minhas muitas dúvidas, meus muitos momentos de reflexão, minhas eternas ânsias de mudança? E conforme o rabino proferia palavras que eu não entendia, meus olhos buscavam os olhos daquele homem quase menino, que eu sabia inseguro, mesmo que apaixonado, ansioso, mesmo que encantado, e acima de tudo, comprometido. Meu coração tentava acalmar-se e, ao receber aquela aliança dourada, que aquela mão suada queria a todo custo enfiar até o fim no dedo errado, eu vi o que me esperava: uma vida de muito carinho, compromisso diário de quem quer fazer o outro feliz. E, ao beijar a aliança que coloquei no dedo do homem que escolhi, selava, com uma sensação de imensa felicidade borbulhando na boca do estômago, o contrato que firmamos. Para sempre.

sexta-feira, 19 de setembro de 2008

Ciúme

Há uma nuvem
no meio
da minha testa
que goteja
lágrimas
que despem
meu desespero.
Está sempre
procurando
uma razão
um sentido
para o ciúme
que nunca senti.

Pra acalentar a saudade...

Quem de nós não sente o coração cheio de saudades de vez em quando? Não precisa ser de alguém, às vezes a saudade é de um sentimento, de uma situação, de um lugar... Hoje eu estou assim, meio saudosa. E a minha trilha sonora (que tirei do fundo do baú :-) tá assim:

1. As cartas que eu não mandei - Leoni
2. Cuide - Paralamas do Sucesso
3. Epitáfio - Titãs
4. Levezinho - Claudio Nucci
5. Noites com sol - Flávio Venturini
6. Eu só penso em você - Kid Abelha
7. Resistência - Orlando Morais
8. Ti chiedo - Renato Russo

quinta-feira, 18 de setembro de 2008

Agonia...

Depois de meses de escaldante solidão o súbito oásis. Súbito, abençoado e sonhado oásis. Entre os teus lábios sedentos afoguei-me, e quase perdi a consciência. Meses. Meses sem tua presença. Sem teu calor. Sem a vida que lateja em cada movimento teu. Quase a morte, indubitavelmente. Quase a morte. Então, quando consegui avistar-te novamente quase perdi os laços da consciência. E o beijo. Ah, o beijo... Forte, sedento, aguardado, ansiado. Nada em minha volta tinha a menor importância, tudo despiu-se de qualquer resquício de sentido ao sentir tua boca na minha depois de tão infeliz jejum. O coração queria escapar pelos dedos. Nada era tão presente quanto teu toque. A solidão traz fantasmas para habitar a alma, e eu abriguei os mais horrorosos na minha. Tinha gosto de luz de abajur minha boca. Tinha ânsia de nunca mais. Meses. As dúvidas podem contaminar por meses a fio os pensamentos bons, disfarçá-los em noites de chuva e guardá-los num desejo. Eu desejei ver-te. Ansiei por teus beijos. Chorei por teus toques. Que finalmente vieram. Depois de trovoadas e tempestades interiores, é certo. Mas que ao menos tiveram a felicidade de voltar.

quarta-feira, 17 de setembro de 2008

Bilhete


O lápis
desenha
um beijo.

Eu assino embaixo
e ponho uma gota
de guaraná.

Saudades.

Música que me embala hoje

Quero quero
(Cláudio Nucci)

Ai, eu quero, quero tanto
Que você me aceite do jeito que eu sou
Muito inibido, recatado, tímido
Puro de amor
Ai, eu quero, quero tanto
Que você me aceite do jeito que eu sou
Arrebatado, atirado, rápido
Sem pudor
Sempre nessa vida solta
Fazendo a gente se chegar
Ao encontro natural
Muito bom de se ficar
Ai, eu quero, quero tanto
Que você me aceite do jeito que eu sou
Descabelado, malucado, doido
Mas muito integrado nesse nosso amor

Bom demais lembrar... Cláudio Nucci Gravou essa música em 1979. Pra quem não lembra (ou não é dessa época), ele foi um dos fundadores do grupo Boca Livre. Gravou um cd com músicas de Dorival Caymmi em 2004 e continua fazendo shows pelo Brasil, em carreira solo. Para saber mais (ou matar as saudades) do compositor de Toada, Sapato Velho, Acontecências e outras pérolas da MPB, visite o site dele.

terça-feira, 16 de setembro de 2008

Escrevo


quanto mais escrava

mais escrevo

pra libertar essa mulher da vida

que me habita


(Martha Medeiros)

Janelas

Abrir a janela e escancarar o mundo. Desmascarar os fatos. Despetalar as flores. Jornais virtuais. Noticiários do dia seguinte. Um mundo cheio de cortinas, grades, multidões solitárias. Mulheres desfilam seus corpos anoréxicos enquanto sonham com um tablete de chocolate que não engorde. Cheiro de suor e guaraná se confundem em mim e eu abro as janelas. O sol entra trazendo o dia que não será o mesmo se eu não ouvir o som daquela voz que me acalenta quando eu me percebo imperfeita. A solidão não me cai bem, mesmo que eu tente disfarçar com roupas maravilhosas. Há palavras demais na minha boca, mas nenhuma nos descreve, nós que não somos. Não precisamos de palavras, se deixarmos a agonia falar por nossos corpos sedentos que não podem se encontrar. Não gosto de estar só. Mas não ligo mais. Mesmo com milhões de sóis no universo eu me contento com um só. Mas beijos eu quero muitos. E sonhos também, senão eu não fecho os olhos.

Lançamento


O professor Herbert Emanuel, por quem tenho imenso respeito e admiração, juntamente com sua esposa Adriana Abreu, estarão lançando na quarta-feira (24/09) o livro Macapá A Capital do Meio do Mundo, publicado pela Cortez Editora. O lançamento será no Monumento Marco Zero, às 18:30.

A redatora deste blog, com muito carinho, parabeniza o casal.

segunda-feira, 15 de setembro de 2008

Palavras que viajam

Duas horas da tarde de um verão absolutamente tórrido no hemisfério sul. Carros, pessoas, cachorros, tudo vagarosamente preguiçoso. Tarde que parecia se arrastar, suada. Do outro lado do mundo ouve-se um hip hop. Amanhã é fim do mês também na Suíça, na Inglaterra, na França. Pessoas se acotovelarão também lá nas filas de banco? Toca um telefone qualquer na China e eu não consigo ouvir precisamente o que falam. Algo sobre uma criança que morreu de fome na Namíbia. Ou teria sido no Piauí? Li no jornal que um jovem americano suicidou-se tomando veneno num copo da Coca-Cola. No verão tudo é mais trágico. Alguém se afogou em Palmas de Mallorca, e era inverno na Rússia. Frio de congelar até o beijo daquele espanhol que mora atualmente na Polônia e serve cafezinho na embaixada da Noruega. É quente no Rio de Janeiro, e deslumbradas mulheres canadenses desfilam de fio dental em Copacabana, mais parecendo camarões tostando ao sol. Sol que nasce quadrado na penitenciária de Tel-Aviv, onde está detida aquela estudante peruana que matou acidentalmente um iraniano naturalizado argentino em território israelense.

domingo, 14 de setembro de 2008

Cheiros que são lembranças

Ah, os cheiros que guardo em mim!... Mais que perfumes: cheiros. Vivos como a chuva que molha meu gramado e desperta a lembrança da estrada que nos levava à praia, passando no meio de um corredor de árvores (que eu, na minha inocência, acreditava ser uma floresta gigantesca...). Cheiro de tacacá no fim da tarde, que adormece meus lábios antes mesmo deles provarem o jambu fresquinho... Cheiro de bolinho de goiabada que minha mãe fazia nas tardes de domingo pra encher nossos olhos, narizes e barrigas... Ah, o cheiro do abraço do meu pai, já tão distante e nunca antes tão doce como agora que cresci - cheiro de loção pós-barba com creme de cabelo (que ele usava para “domar” os fios cuidadosamente repartidos ao lado). Cheiro de tangerina recém-descascada, que escorria traçando caminhos pelos braços infantis na pressa de comer sem repartir... que eu sempre fui muito gulosa, e pouco dada a dividir meu lanche com crianças que só gostavam de mim quando eu tinha algo que podia ser partilhado. Cheiro de roupa lavada, que pegou sol na medida certa e solta aquele delicioso cheiro de vento fresco no varal. Cheiro de banana madura, doce mas não passada, ao assar no forno com canela. Cheiro de festa de aniversário, uma mistura de cores e sabores que tive a sorte de viver em minha infância. Cheiro de criança pequena, mas aquela criança que acabou de tomar banho com umas gotinhas de alfazema na água, e não aquela que a mãe não colocou pra arrotar devidamente e batizou com leite azedo as curvas do pescocinho gordo... Cheiro de café torrando, como aquele que eu sentia às cinco da tarde da janela do meu quarto, quando eu chegava em casa distraída demais pra aproveitar o perfume que entrava em suaves ondas. Cheiro de cozinha limpa, uma mistura de limão e carinho que só quem gosta do que faz deixa por onde passa. Tantos cheiros que guardo em mim, mas que não substituem o cheiro do amor que minha mãe colocava em gotas atrás de nossas orelhas quando íamos sair – cheiro que nunca sai da minha lembrança, e que me vem a cada abraço que hoje dou em minhas filhas.

Palavras...

Não devia te contar
se você guardar segredo
eu revelo este meu medo
de não saber amar.

Não devia te amar
mas se você guardar meu medo
eu revelo este segredo
que não sei contar.

Martha Medeiros

sábado, 13 de setembro de 2008

Palavras para recordar

Eu me dividi e deixei parte de mim mesma aqui, nesta sala cheia de cores e sons. Ficou um pouco de mim nas carteiras duras e desconfortáveis, entre os sorrisos que eu dei e os que nunca tive vontade de dar. Bem aqui. Sinto-me como se nunca tivesse deixado esta sala, e as lágrimas que não queria derramar tentam afastar de mim a dor de não viver mais uma época tão feliz. E chorar aqui, onde eu sorri e brinquei tantas vezes me deixa mais saudosa. Choro por todas as palavras que não pude pronunciar, ou pelas vezes que não participei das piadas. O mundo é uma assustadora montanha russa, e esta sala costumava ser meu encontro comigo mesma e com os amigos-irmãos que a vida me apresentou. Agora não há mais ninguém aqui, mas eu sei que de vez em quando eles voltam. Todos precisam voltar, sentir o cheiro do passado guardado em cada canto, revigorar-se com o amor que transborda de cada parede. Nunca fomos robôs, e precisamos nos sentir protegidos, mesmo que não seja o mesmo sentimento de antes.
Quando eu entrei aqui não vim buscar a minha parte de volta. Ela não me faz falta lá fora, e eu sempre tenho um pretexto para voltar. Vim para rever os quadros, olhar a mesma paisagem através da janela, ouvir os sons que não estão mais agora que não estamos todos juntos. Queria reencontrar meu passado aqui. Meus amigos. Mas eles também vivem num mundo maior, de onde vêm tão raramente quanto eu, em dias diferentes, horas distintas. De qualquer forma, sempre os vejo aqui, na mesma comunhão, rindo de bobagens e construindo sonhos. Na verdade, nenhum de nós nunca deixou esta sala, assim como não se esqueceu das palavras, dos gestos, das risadas, das músicas, dos códigos... Não. Nenhum de nós se perdeu tanto que não possa se encontrar aqui.

sexta-feira, 12 de setembro de 2008

Acontece...

Me olhas
como quem parte -


parte de mim
enlouquece.


A outra parte
se falasse
diria que isso acontece...

quinta-feira, 11 de setembro de 2008

Bagunça musical

Hoje eu estava mais eclética que ontem (ontem só rolou Chico Buarque: nostalgia da infância, saudade do meu pai, gosto musical mais exigente, sei lá...).
Veja só o que me acompanhou durante a tarde:
1. Alô - Roberto Carlos (ei, não vale tirar sarro...)
2. Invincible - Five
3. Quero te ver - Luiza Possi
4. Flor da Idade - Chico Buarque (tá bom, confesso que ele tá resistindo muito pra sair da minha lista...)
5. Thank you - Dido
6. Tu - Juan Luiz Guerra (Não conhece? Aqui você resolve esse probleminha...)
7. Hoplessly devoted to you - Olivia Newton John (acredite, é aquela música do Grease...)
8. Tatuagem - Chico Buarque (ai, confesso, essa música é meu mantra...)
9. Pelo avesso - Roberto Carlos (nunca ouviu? Escuta e me diz!)
10. Tá tudo errado - Emílio Santiago.

sábado, 6 de setembro de 2008

De 22 a 24 de outubro a Anpad (Associação Nacional de Pós-Graduação e Pesquisa em Administração) estará promovendo o XXV Simpósio de Gestão da Inovação Tecnológica, em Brasília-DF. Inovação, cultura e empreendedorismo será o tema do evento este ano. Para maiores informações, inclusive inscrição de trabalhos, clique aqui.

sexta-feira, 5 de setembro de 2008

Para refletir...


"Amar é ter um pássaro pousado no dedo.

Quem tem um pássaro pousado no dedo sabe que, a qualquer momento, ele pode voar"



Rubem Alves

quinta-feira, 4 de setembro de 2008

Fundo musical

Minha seleção musical de hoje à tarde – pra coroar um dia que não tá dando muito certo:
1. Paralelas – Belchior
2. Pessoa – Marina Lima
3. Telegrama – Zeca Baleiro
4. Pra nunca mais – Osmar Júnior
5. Clube da Esquina –Flávio Venturini
6. Fato consumado – Djavan
7. Você não me ensinou a te esquecer – Caetano Veloso
8. A Canção tocou na hora errada – Ana Carolina
9. It´s not enough – Marina Lima
10. Nightie Night – Marina Lima

quarta-feira, 3 de setembro de 2008

Desejo


De cada ponto em meu corpo
pulsa o desejo por ti
por teu olhar disfarçado
por teu beijo caprichado,
por teu cheiro de banho tomado,
por teu jeito de abandonado,
por tua proposta de pecado,
por não teres me enganado,
pelo teu corpo cuidado
por tudo o que não me falas,
que pensas e calas
pelo muito que te abalas
quando estamos
aqui.

De cada ponto em meu corpo
pulsa o desejo por ti.

Brisa


Na manhã que vem raiando

tua voz me vem chegando

como brisa beijando a flor


E por esse rouxinol que canta

enquanto o mundo se levanta

eu te mando meu amor.

terça-feira, 2 de setembro de 2008

Palavras de outros poetas...

O Isaac Marinho é um escritor que encontrei meio por acaso, e seu jeito de dizer o que lhe vai no coração me encantou logo de cara. Pra vocês terem uma idéia do talento dele, postei uma poesia que está no blog Textos Perdidos. Vale a pena dar uma passadinha por lá!


Não Vou Cobrar de Você

(Isaac Marinho)


Não vou cobrar de você
O beijo que me negou
O dia que esqueceu
O sonho que não sonhou
A flor que não recebeu
O afago que me faltou
Carta que não escreveu
Cartão que nunca mandou
Não faço por merecer
Não vou cobrar de você
O amor com que não me amou

Fotografia

Não saio muito bem
em fotografias.

Porque meu melhor lado
a foto não pega.

Não me faz bela
ou me faz juz.

Porque
meu melhor lado
não é o esquerdo.

Não é o direito.

É o de dentro.
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