Nunca mais dormirei pensando em ti. Porque as nuvens invadem meu quarto com as sombras ressaltadas pela luz da lua. O teu nome entra em meus pensamentos como o relincho surdo de uma égua no cio. Um pensamento de laranja azeda e sorvete de milho verde dentro de mim. E as nuvens! Reflexos negros dentro do meu quarto como se estivessem dentro do meu peito, me sufocando! O relógio parou. Lá fora, luzes vão apagando nas janelas dos apartamentos vizinhos e o tempo vai escoando lentamente, como uma bailarina que não quer terminar seu número porque não tem para onde ir depois que descer do palco. Tua sombra continua nadando em mim, na minha saliva, esperando o dia amanhecer. Quero dar um grito, mas estou oca, completamente despida de energia. Buzina um carro na rua paralela ao edifício onde me escondo da noite. Tremo de frio, arrepiando os pelos das coxas. Tua imagem, destituída de forma exata, volta a me perturbar como um tiroteio cortando o silêncio, essas armas que nunca calam! Sinto falta do murmúrio do vento balançando as folhas dos açaizeiros que avisto da minha janela. A escuridão parece ter apagado as estrelas. Não, as estrelas não quiseram brilhar hoje. E jamais aparecerão de novo enquanto eu pensar em ti. Resta-me a pálida luz da lua, que aumenta meu medo das sombras que ela ressalta. E as nuvens não vão embora. Por isso sinto medo. Nunca mais dormirei pensando em ti. Não dormirei nunca mais.
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