
Decisão tomada
confirmada
comunicada
acatada
(lamentada?)
confirmada
comunicada
acatada
(lamentada?)
mas não me convenci
de que fiz o certo.
Do que nunca terei
porque não sei
ter outra face
escolhi sentir saudade
- esperar
não me cai bem.
A Alcilene Cavalcante, jornalista super conceituada aqui do Amapá, fez uma entrevista muito legal comigo. Tá lá no blog dela.
É dessa solidão que eu falo tanto
Tenho uma desordem natural
Da varanda de casa eu sentia o cheiro. Temperos diferentes, ervas, caldos... O chiado das panelas sobre o fogão avisava: mamãe estava na cozinha. Encantada com a possibilidade de ajudar e assim entrar no mundo dos adultos, mesmo que com a permissão exclusiva para fazer as tarefas menores (nada de facas, objetos pontiagudos, latas, vidros...), eu me postava à porta, observando o movimento das colheres, assadeiras, travessas... Pra mim, aquele mundo morno e levemente açucarado era quase mágico. Como se o cheiro que saía das panelas e penetrava em minhas pequenas narinas fosse capaz de operar milagres. Sempre havia algo na cozinha para curar o que eu sentia: uma sopinha morna para os dias de febre ou uma gemada batida vigorosamente pelas mãos ágeis de mamãe para quando o corpo estivesse fraco (e quantas vezes fingi uma fraqueza e prostração imensas só pra ganhar aquela gemada com algumas preciosas gotas de vinho...). A cozinha pra mim era um território de descobertas. Imaginava aquelas colheres de pau, panelas, armários, potes, vasilhas ganhando vida para compor uma melodia absolutamente harmônica... E fantasiava com uma cozinha só minha, onde vidros, facas e tesouras fossem permitidos, onde o cheiro que saía das panelas não tivesse nada a ver com dobradinha ou cozido, e as crianças comessem junto com os adultos. (pois é, sou do tempo em que as crianças comiam primeiro...)


Garimpar a alma em busca de novas emoções. Acordei com esse desejo estranho pulsando em meu pensamento. Varrer o que é antigo e procurar o que não conheço. Quem sabe um pouco mais de sanidade, já que meus caminhos são loucos demais pra que eu consiga viver em paz comigo mesma. Quem sabe um pouco de leveza, que a culpa pesa uma tonelada, e me sinto cansada de carregar tanto peso em mim. Talvez a sensação inédita de ser ansiada, esperada, a salvação dos dias sem graça de alguém que já não sabe sonhar. Não encontro respostas em mim, o gosto de quero mais adoçando minha boca, e um perfume febril de juventude entrando em minhas narinas. Quero sonhos novos, já vivi tempo demais colhendo amoras da macieira, chega de ilusões. Quero abraços demorados, cheiro de chuva e chá de capim marinho aquecendo minhas horas sem a presença preguiçosa de uma luz quase apagada, que falta faz um arroubo adolescente na vida de quem não lembra mais como ser feliz... Minha felicidade não chega a ser contagiante, é mais uma imagem engraçada que se forma diante dos que não têm a loucura pulsando em si. A minha loucura eu já conheço, talvez demais até. Sei onde ela me leva e sei que não vou chegar onde ela queria, talvez seja hora de trocar de sapatos. Esses eu já não quero, que não amortecem meus pesares como antes. É, garimpar a alma em busca de novas possibilidade me parece excitante hoje. Com novos mapas pode ser que eu chegue em algum lugar...