Mesmo depois da tristeza ter ido embora ela ainda ficou por ali, olhos fechados, sentindo o vento que vinha da única janela aberta. Havia muito tempo não chorava, e até já tinha esquecido da sonolência que o choro sentido e convulsivo deixa quando passa. Abraçou uma almofada e tentou limpar a mente de tudo o que parecesse significativo. Adormeceu sem se dar conta que a porta estava destrancada, e não viu quando ele entrou.
Não percebeu, também, o olhar enigmático em sua direção, não sentiu as mãos que passeavam pelos seus cabelos curtos em desalinho, nem conseguiu sentir a ternura que saía daquele toque suave. O desconhecido que a tocava entrou em seu sonho como uma sombra, mas não sentiu medo. Sabia que ele não a faria mal algum.
E porque não tinha medo não ofereceu qualquer resistência quando ele desceu as mãos pelo rosto e encontrou a curva do pescoço macio, detendo-se naquele pedaço do corpo tão sensual e ao mesmo tempo tão frágil. Quando ele apertou-lhe a garganta ela sequer abriu os olhos. Não faltou-lhe o ar de imediato, nem tampouco sentiu dor. Ouviu um pequeno estalo e tudo escureceu.
Quando a empregada chegou para trabalhar no dia seguinte estranhou a porta entreaberta. O grito logo preencheu o ambiente decorado em tons de terra. Um alvoroço tomou conta dos vizinhos quando a notícia se espalhou. Ninguém ouvira nada, nem havia visto qualquer estranho entrar no edifício. Não havia qualquer pista que pudesse levar ao dono dos dedos que deixaram aquelas estranhas marcas arroxeadas no pescoço alvo da jovem que jazia, inerte.
As conversas de corredor não tardaram a começar. Logo, cada morador tinha seu suspeito. Pereira achava muito estranho o comportamento daquele jovem do 801, sempre de preto e com ar soturno, mas Duarte não concordava. Achava que devera ser alguém que havia subido com ela ao apartamento na noite anterior ao crime, mesmo não existindo qualquer registro de visitas na portaria. O carro dela tinha película escura, logo ela poderia ter chegado com alguém. Ou não?
Dona Suzana desconfiava do morador do 203, um senhor calvo, careca e obeso, que aos 40 e poucos anos ainda morava com a mãe e dividia seus dias entre o computador e o binóculo que usava para ver de perto a vida alheia. A vizinha do 502, sempre calada mas muito observadora, discordava de dona Suzana. Um sujeito como aquele não conseguiria entrar sem fazer barulho, e mimado pela mãe daquele jeito seria incapaz de matar uma formiga. Não, o assassino era outro. E continuava escondido sob o véu da incerteza, disfarçado sabe-se lá do quê, ou de quem.
Na dúvida, cada um antes de dormir fazia questão de conferir se as portas estavam devidamente trancadas, bem como todas as janelas. Alguns mais preocupados ainda colocaram alarmes e outros dispositivos de segurança. Mas tranqüilidade mesmo, ninguém nunca mais conseguiu ter. A não ser, claro, o respeitado morador do 601 que, semanas antes, ao passar pela porta do apartamento da jovem que morava sozinha não pode deixar de perceber a porta entreaberta e resolveu entrar.
Não percebeu, também, o olhar enigmático em sua direção, não sentiu as mãos que passeavam pelos seus cabelos curtos em desalinho, nem conseguiu sentir a ternura que saía daquele toque suave. O desconhecido que a tocava entrou em seu sonho como uma sombra, mas não sentiu medo. Sabia que ele não a faria mal algum.
E porque não tinha medo não ofereceu qualquer resistência quando ele desceu as mãos pelo rosto e encontrou a curva do pescoço macio, detendo-se naquele pedaço do corpo tão sensual e ao mesmo tempo tão frágil. Quando ele apertou-lhe a garganta ela sequer abriu os olhos. Não faltou-lhe o ar de imediato, nem tampouco sentiu dor. Ouviu um pequeno estalo e tudo escureceu.
Quando a empregada chegou para trabalhar no dia seguinte estranhou a porta entreaberta. O grito logo preencheu o ambiente decorado em tons de terra. Um alvoroço tomou conta dos vizinhos quando a notícia se espalhou. Ninguém ouvira nada, nem havia visto qualquer estranho entrar no edifício. Não havia qualquer pista que pudesse levar ao dono dos dedos que deixaram aquelas estranhas marcas arroxeadas no pescoço alvo da jovem que jazia, inerte.
As conversas de corredor não tardaram a começar. Logo, cada morador tinha seu suspeito. Pereira achava muito estranho o comportamento daquele jovem do 801, sempre de preto e com ar soturno, mas Duarte não concordava. Achava que devera ser alguém que havia subido com ela ao apartamento na noite anterior ao crime, mesmo não existindo qualquer registro de visitas na portaria. O carro dela tinha película escura, logo ela poderia ter chegado com alguém. Ou não?
Dona Suzana desconfiava do morador do 203, um senhor calvo, careca e obeso, que aos 40 e poucos anos ainda morava com a mãe e dividia seus dias entre o computador e o binóculo que usava para ver de perto a vida alheia. A vizinha do 502, sempre calada mas muito observadora, discordava de dona Suzana. Um sujeito como aquele não conseguiria entrar sem fazer barulho, e mimado pela mãe daquele jeito seria incapaz de matar uma formiga. Não, o assassino era outro. E continuava escondido sob o véu da incerteza, disfarçado sabe-se lá do quê, ou de quem.
Na dúvida, cada um antes de dormir fazia questão de conferir se as portas estavam devidamente trancadas, bem como todas as janelas. Alguns mais preocupados ainda colocaram alarmes e outros dispositivos de segurança. Mas tranqüilidade mesmo, ninguém nunca mais conseguiu ter. A não ser, claro, o respeitado morador do 601 que, semanas antes, ao passar pela porta do apartamento da jovem que morava sozinha não pode deixar de perceber a porta entreaberta e resolveu entrar.
2 comentários:
Muito legal. Mas ficaria melhor se o morador do 601 já tivesse aparecido antes...
Obrigada pela dica! No próximo juro que não escondo meu culpado no último parágrafo!... rsrs
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