A chuva não impediu a dança. Os trovões com toda a sua força e ela ali, sorrindo. O vento sequer movia seus cabelos, nada estava fora do lugar. Deixa eu mostrar quem sou, parecia dizer com seu andar gracioso, quase adolescente. Quem viu achou que ela nada sabia. Mas seu olhar seguro não deixava dúvidas: já havia entendido há muito tempo que o tempo que ele não estava com ela estava em mim. E em mim repousava, retalhado pelos anos arrastados sem viço, quando só queria palavra que pulsasse, abraço que aquecesse, coração que latejasse. Ela sabia. E cada passo que dava contava a história de amor que sabia ter vivido e que fazia questão absoluta de guardar, mesmo que dentro de um corpo inerte e sem luz. Era dela a presença absoluta, a voz grave, o olhar cândido. Olhei na direção do mar e vi as ondas batendo no barco vazio. O barco ali, à espera de seu capitão. Eu não sei navegar. Especialmente em meio à chuva. Ela abraçava o próprio corpo com a beleza que juntou através dos anos, que pareciam estacionados em algum lugar entre os cabelos escuros. Quem é capaz de enganar o tempo tem o direito de contar sua história em paz. E eu saí.
2 comentários:
"já havia entendido há muito tempo que o tempo que ele não estava com ela estava em mim."... e haja percepção eim amiga, tuas palavras me fizeram gostar de vc sem nem nunca ecutado tua voz ou olhado nos teus olhos ter!
Bjs meus
Fico muito feliz que vc goste dos meus escritos!...
Acho que temos um amigo em comum, o Mauro. Quem sabe agora que já nos conhecemos tanto por dentro possamos enfim nos conhecer por fora?...
Beijos!
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