
Do que não revelas
eu sinto
tua vontade
de arrancar de mim
as asas
cortar meus pés
enclausurar meus devaneios
e porque não podes
ardes na febre eterna
e absoluta
do ciúme que não confessas.
Eu odeio essa mulher todo dia. As mudanças que ela sofreu, que vão bem mais além das finas rugas e de alguns cabelos brancos espalhados na longa cabeleira. Odeio o modo como ela se expõe, suas saias nunca abaixo dos joelhos, suas pernas bem torneadas mostrando aos outros o que eu queria só pra mim. Odeio a maneira gentil com que ela trata quem sequer conhece, o modo descuidado com que se porta. Odeio quando não me conta o que já sei, como se eu nunca fosse perceber que algumas palavras tem duplo significado e que nem sempre o mais adequado é o que ela quis usar. Odeio seus trejeitos de menina no corpo de mulher, seu sorriso condescendente, seu modo quase esnobe de dizer que sente muito, seu olhar de desdém ante minhas indagações.
