
Lembro dos dias de aniversário com uma nostalgia que só quem teve uma infância feliz entende. As festas começavam semanas antes, com o estoque prévio de latas de leite condensado que minha mãe ia cuidadosamente fazendo, compra após compra, para que nosso orçamento não ficasse muito comprometido.
O armário da cozinha ia ficando cada vez mais bonito, com filas de latinhas de leite, confeitos dos mais diferentes tipos e cores, forminhas coloridas que eu sabia que nós, crianças, separaríamos uma por uma na véspera da festa.
E tudo era festa. Mamãe tinha o cuidado de programar cada detalhe. Pastilheiros diferentes, como verdadeiras obras de arte. Isopor, abóboras, bonecas, tudo servia de base para aquelas pastilhas açucaradas de maracujá, as verdadeiras, que nunca mais provei desde que passaram a usar balinhas industrializadas para facilitar o trabalho. Tenho o cheiro das pastilhas agora mesmo no meu nariz: mais que cheiro de açúcar e maracujá, cheiravam a amor de mãe. Cada pastilha era enrolada e depositada no pastilheiro com reverência. O resultado era lindo!
Tinha também a mesa, que mamãe preparava à moda antiga: bolo no meio, garrafinhas devidamente vestidas com roupinhas de papelão de personagens da Disney, pratinhos para as crianças ao redor de tudo, que na hora da festinha recebiam generosas porções de arroz com galinha, que não tinha festa infantil sem um bom arroz com frango, passas, milho, batata palha, maçã e mais o que a mãe colocasse pra dar sabor.
Mas o melhor era a véspera. Quando as latinhas saiam do armário e ganhavam vida nas panelas de mamãe. Depois de arregimentar duas ou três gentis ajudantes, ela começava a misturar o leite com os mais diferentes ingredientes. E começavam a surgir pratos cheios de doces por enrolar: brigadeiros, doces de coco, moranguinhos, cajuzinhos, olhos de sogra, doces de queijo, uvinhas, casadinhos e mais o que a imaginação mandasse.
Nós, crianças, encantadas com as sobras que ficavam nas panelas, nos dividíamos entre as forminhas para separar e os confeitos para enrolar os doces. Que delícia! De vez em quando um docinho pulava do prato de confeitos direto para nossa boca. Mamãe ralhava, que não iriam sobrar doces para o dia seguinte, mas comia também. Podíamos comer os que não estavam no padrão, ou seja, pequenos demais (doces pequenos não serviam, que as pessoas iriam pensar que éramos miseráveis), grandes demais (que era falta de educação servir doces que enchessem demais a boca dos convidados), enfim... qualquer motivo servia para enfiarmos apressadamente um espécime rejeitado em nossa boca gulosa.
E no dia seguinte, a mágica: acordávamos com a casa cheirando a festa. Era perfume de pudim assando no forno com quadradinhos de maracujá sendo cortados na cozinha, peru assando no forno para ser delicadamente desfiado em seguida... Ir para a escola era um sacrifício, as horas não passavam nunca!
E à noite, mamãe acabada de cansaço, regozijava-se ante cada elogio recebido e, como uma rainha, desfilava bandejas e mais bandejas de doces, salgados, comidas com um orgulho que não passava desapercebido. O cansaço não lhe deixava feia, ao contrário, dava-lhe um ar de vitória, um carinho imenso acompanhando cada saquinho de brinde que saía,cobiçado por crianças e adultos.
Hoje, mais crescida, me vejo enrolando doces em vésperas de aniversário com minhas filhas, sentindo o cheiro dos doces de mamãe, numa saudade gigantesca de separar forminhas, brigar pelas raspas de panela e apagar as velas de aniversário que ela acendia pra mim.
Talvez eu nunca tenha dito, talvez nunca tenho tido sequer a consciência, mas os melhores dias da minha vida foram passados numa cozinha quente, açúcar grudado na roupa, ao lado de minha mãe.
O armário da cozinha ia ficando cada vez mais bonito, com filas de latinhas de leite, confeitos dos mais diferentes tipos e cores, forminhas coloridas que eu sabia que nós, crianças, separaríamos uma por uma na véspera da festa.
E tudo era festa. Mamãe tinha o cuidado de programar cada detalhe. Pastilheiros diferentes, como verdadeiras obras de arte. Isopor, abóboras, bonecas, tudo servia de base para aquelas pastilhas açucaradas de maracujá, as verdadeiras, que nunca mais provei desde que passaram a usar balinhas industrializadas para facilitar o trabalho. Tenho o cheiro das pastilhas agora mesmo no meu nariz: mais que cheiro de açúcar e maracujá, cheiravam a amor de mãe. Cada pastilha era enrolada e depositada no pastilheiro com reverência. O resultado era lindo!
Tinha também a mesa, que mamãe preparava à moda antiga: bolo no meio, garrafinhas devidamente vestidas com roupinhas de papelão de personagens da Disney, pratinhos para as crianças ao redor de tudo, que na hora da festinha recebiam generosas porções de arroz com galinha, que não tinha festa infantil sem um bom arroz com frango, passas, milho, batata palha, maçã e mais o que a mãe colocasse pra dar sabor.
Mas o melhor era a véspera. Quando as latinhas saiam do armário e ganhavam vida nas panelas de mamãe. Depois de arregimentar duas ou três gentis ajudantes, ela começava a misturar o leite com os mais diferentes ingredientes. E começavam a surgir pratos cheios de doces por enrolar: brigadeiros, doces de coco, moranguinhos, cajuzinhos, olhos de sogra, doces de queijo, uvinhas, casadinhos e mais o que a imaginação mandasse.
Nós, crianças, encantadas com as sobras que ficavam nas panelas, nos dividíamos entre as forminhas para separar e os confeitos para enrolar os doces. Que delícia! De vez em quando um docinho pulava do prato de confeitos direto para nossa boca. Mamãe ralhava, que não iriam sobrar doces para o dia seguinte, mas comia também. Podíamos comer os que não estavam no padrão, ou seja, pequenos demais (doces pequenos não serviam, que as pessoas iriam pensar que éramos miseráveis), grandes demais (que era falta de educação servir doces que enchessem demais a boca dos convidados), enfim... qualquer motivo servia para enfiarmos apressadamente um espécime rejeitado em nossa boca gulosa.
E no dia seguinte, a mágica: acordávamos com a casa cheirando a festa. Era perfume de pudim assando no forno com quadradinhos de maracujá sendo cortados na cozinha, peru assando no forno para ser delicadamente desfiado em seguida... Ir para a escola era um sacrifício, as horas não passavam nunca!
E à noite, mamãe acabada de cansaço, regozijava-se ante cada elogio recebido e, como uma rainha, desfilava bandejas e mais bandejas de doces, salgados, comidas com um orgulho que não passava desapercebido. O cansaço não lhe deixava feia, ao contrário, dava-lhe um ar de vitória, um carinho imenso acompanhando cada saquinho de brinde que saía,cobiçado por crianças e adultos.
Hoje, mais crescida, me vejo enrolando doces em vésperas de aniversário com minhas filhas, sentindo o cheiro dos doces de mamãe, numa saudade gigantesca de separar forminhas, brigar pelas raspas de panela e apagar as velas de aniversário que ela acendia pra mim.
Talvez eu nunca tenha dito, talvez nunca tenho tido sequer a consciência, mas os melhores dias da minha vida foram passados numa cozinha quente, açúcar grudado na roupa, ao lado de minha mãe.